Artista falou do que a música e a palavra significam para ela. Importância do posicionamento político e social na criação de música em discussão. Por Jorge Botana e Lara Queiroz
Decorreu hoje, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), uma conferência da rapper e socióloga Ana Matos Fernandes, conhecida como Capicua. A palestra, intitulada “Palavra-Música-Palavra”, fez parte do X Encontro de Investigação em Musica (ENIM) organizado pela Sociedade Portuguesa de Investigação em Música em conjunto com a FLUC e o Centro de Estudos Interdisciplinares da UC .
Capicua, também doutorada em Estudos Territoriais, falou sobre a sua perspetiva da investigação musical e a sua visão pessoal sobre a palavra e a música. A artista refere que a escrita a acompanhou como “uma ferramenta de autoconhecimento” e uma forma de interpretar o mundo. Em relação à música, ela identifica-se com o ‘hip hop’ e o ‘rap’, pois tem a “capacidade de expressar todos os tipos de sentimentos”, explica.
No ‘hip hop’, assegura que encontrou uma forma de trabalhar a palavra “não só como objeto estético, mas como veículo de discurso e posicionamento”. Desde que começou a trabalhar com a música, mesmo de uma forma mais disciplinada em 2004, viu a primeira arte como uma “ferramenta de mudar o mundo”. Considera também que o ‘hip hop’ tem a força de atingir um grande público para “empoderar um grupo de pessoas em situações críticas”, destaca.
Ana Matos falou também sobre a sua experiência como mulher no âmbito do rap e o hip hop. “Ser mulher no rap é uma especificidade”, refere. Assegura que o simples facto de estar em cima de um palco “a dizer o que pensa, sem elementos decorativos” já é “por si subversivo”. Considera ainda importante que os músicos se posicionem de forma social e política. “É um jeito de participar na opinião pública”, enfatiza.
A carreira da Capicua continua hoje muito viva desde que, em 2012, lançou o seu primeiro álbum. A artista tem colaborado com grandes editoras e discográficas importantes como a Sony e a Universal. No entanto, considera que no contexto cultural, a estabilidade “é muito complicada” e que piorou por causa da pandemia. “O tempo do mercado tende a ser cada vez mais incompatível com o tempo da arte”, afirma. Ana Matos acredita que existe uma “ditadura da novidade” gerada por uma elevada oferta de mercado e que se traduz em mais precariedade e desamparo para os artistas.
No momento atual, a ‘rapper’ sente a necessidade de explorar novos caminhos. Durante os últimos dois anos escreveu uma obra de teatro e está a pensar num livro, a par de continuar a sua formação. Sobre o futuro, afirma que não se vê a fazer música profissional durante muito mais tempo, mas a palavra vai estar sempre presente “quando a música não for o seu caminho”.
