Cidade

Vozes contra a despenalização da eutanásia fazem-se ouvir na Praça 8 de Maio

Falta de camas para cuidados paliativos é apontada como problema por médica oncologista no IPO. Professor jubilado salienta aumento dos casos de eutanásia cometidos de forma ilegal na Holanda. Por Joana Carvalho e Francisca Soeiro

No dia 19 de fevereiro, pelas 18 horas, teve lugar em frente à Câmara Municipal de Coimbra um protesto contra a despenalização da eutanásia. O evento contou com três oradores, dos quais se destacaram Henrique Vilaça Ramos, médico e professor jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e Margarida Teixeira, médica oncologista no Instituto Português de Oncologia (IPO). Afonso Lemos, estudante de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra, foi representante dos jovens no decorrer da manifestação.

Henrique Vilaça Ramos iniciou a sua intervenção durante o protesto ao referir que “é necessário ouvir a voz do povo”. Segundo o professor jubilado, “os deputados que vão aprovar esta medida estão a ser desleais para com os portugueses e, por isso, não têm autoridade moral nem democrática sobre o assunto”. O médico apontou como exemplo o caso holandês onde, a seu ver, “a lei se tem alargado”. Henrique Vilaça Ramos salienta ainda que a prática ilegal tem aumentado em relação às eutanásias feitas de forma legal.

Em segundo lugar interveio Margarida Teixeira, médica oncologista do IPO, que destacou a falta de camas para pacientes com necessidade de cuidados paliativos em Coimbra. Segundo a oncologista, “na Holanda morrem 1000 holandeses por ano sem que o consentimento prévio seja dado de maneira explícita”. Encerrou a intervenção com o apelo para que “no fim da vida não chamem a lei, chamem a ética e deixem viver”.

Já Afonso Lemos começou por lembrar uma carta aberta assinada por jovens com a finalidade de ser entregue aos deputados no parlamento, de modo a impedir a despenalização da eutanásia. De seguida o estudante mencionou que “segundo a Constituição da República Portuguesa, a vida é inviolável”. De acordo com o jovem, “os governantes tratam as pessoas como se fossem incapazes de viver”. Afonso Lemos acrescentou ainda que “o objetivo das leis é ajudar o Homem a realizar-se, e que não é a realização do homem acabar com a própria vida”.

Margarida Miranda, professora na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, manifestou-se contra esta medida e referiu a “necessidade de dar voz neste debate às pessoas que acompanham os doentes e os idosos”. Para a professora, “a morte não é referendável, porém, neste caso, um referendo é um mal menor”. A docente realçou que “os mais vulneráveis têm de ser protegidos”.

Um espetador, que preferiu deixar a sua identidade em anónimo, declarou-se a favor da eutanásia, por considerar que “se uma pessoa está em sofrimento, tem o direito de decidir não querer sofrer mais”. Contudo é do parecer do espetador que se deve fazer um referendo, para que todos possam expressar a sua opinião.

To Top