Cultura

As duas faces do colonialismo português em cena

Vera Marmelo

Espetáculo baseia-se em histórias contadas por filhos da geração da época colonial portuguesa. Reconhecimento e aceitação da história apontada como solução para mudança de pensamento. Por Joana Carvalho

O Teatro Académico Gil Vicente abre esta sexta feira, às 21h30, as suas portas para a peça de teatro “Os Filhos do Colonialismo”, da companhia de teatro Hotel Europa. Segundo André Amálio, um dos seus criadores, o espetáculo em questão é uma peça de teatro documental, cujo objetivo é a reflexão por parte dos intérpretes sobre o passado dos pais.

“Esta é uma forma de teatro que não é ficção” reforça o artista. O elenco é constituído por pessoas que não são atores e foram encontradas ao longo dos anos através de entrevistas e ‘workshops’. André Amálio explica que este tipo de teatro se baseia em factos reais, pesquisas bibliográficas e entrevistas aos pais dos intérpretes.

 O tema do colonialismo tem sido trabalhado pela companhia Hotel Europa de “diferentes formas”, elucida o criador da peça. De acordo com André Amálio, este interesse começou a partir de um doutoramento feito em Londres sobre teatro documental e o fim do colonialismo português. “A história ensinada na escola, em Portugal, era muito diferente”, reconhece o artista.

O foco da peça é a geração que nasceu depois do 25 de abril e “a forma como se sentem sobre o passado”, afirma o artista. André Amálio considera que uma das maiores diferenças da geração do pós-colonialismo é a maior abertura para a discussão do assunto. Admite ainda que, enquanto cidadão português, é preciso conhecer a história e aceitá-la.

No entanto, o artista lamenta que continue a existir “uma espécie de negação do passado, escrito enquanto propaganda do fascismo em Portugal”. Segundo André Amálio, “Portugal tende a olhar para a sua história de um ponto de vista muito mitológico” e reforça a importância de “a contar e rever nos tempos de hoje”.   Considera também que “esta geração não precisa de acreditar em contos de fadas”.

A discussão sobre o tema é apontada pelo criador da peça como o primeiro passo construtivo na mudança de paradigma. O artista explica ainda que “este processo é longo, por existirem muitas pessoas que se lhe opõem e que preferem manter essas estruturas de poder”. Porém, André Amálio acredita que já se consegue verificar uma transição na forma como se pensa sobre o passado colonial português.

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