Cultura

“Vitalina Varela” recebe prémio máximo do Caminhos

Nino Cirenza

“Vitalina Varela”, “Variações” e “Alva” foram as obras mais prestigiadas. Organizadores e jurados questionam a baixa adesão por parte do público. Por Nino Cirenza

O XXV Festival Caminhos do Cinema Português terminou no último sábado, e a entrega dos prémios aconteceu no Teatro Académico Gil Vicente (TAGV). Foram entregues distinções por cinco diferentes júris: Outros Olhares, Ensaios, Imprensa Cision, Federação Internacional de Cineclubes e Seleção Caminhos, que avaliaram um total de 177 filmes. “Vitalina Varela”, “Variações” e “Alva” foram as obras mais premiadas.

António Pita, em nome da organização do evento, agradeceu aos funcionários do TAGV e aos voluntários do Caminhos. Dirigiu também a palavra ao público do evento, uma vez que, para ele, o público “é a razão pelo qual se faz isto”. António Pita compartilhou ainda o desejo pessoal de o cinema português ser mais visto.

Filipa Queiroz, jurada da Seleção Imprensa Cision e natural de Coimbra, falou sobre a necessidade de se ter “espírito de missão” e “resiliência” para tornar o Caminhos uma realidade, além de desejar mais 25 anos ao festival, “só que com mais público”. A expectativa da organização do festival é de que consigam atrair mais investimentos e assistências nas próximas edições.

Seleção Caminhos

A Seleção Caminhos foi a seleção que teve mais prémios. Para além dos prémios pontuais, o júri desta seleção foi responsável por eleger o Grande Prémio do Festival. A produção “Vitalina Varela” foi a obra a receber a honraria máxima da noite. Vitalina Varela venceu a categoria de Melhor Atriz do festival.

No filme homónimo, a cabo-verdiana é atriz e personagem numa história biográfica sobre a sua vinda a Portugal, três dias depois do funeral do seu marido que não via há 25 anos. “O Pedro Costa (realizador do filme) bateu na minha porta e abriu o meu coração” revelou Vitalina Varela.

Outra produção muito prestigiada no festival foi “Alva”, de Ico Costa, vencedora nas categorias de Melhor Filme Longa-Metragem, Melhor Som e Melhor Montagem. Teresa Madruga venceu como Melhor Atriz Secundária em “Variações”. No mesmo filme, Filipe Duarte foi escolhido Melhor Ator Secundário, e Sérgio Praia nomeado Melhor Ator.

Filipe Duarte, em vídeo, disse que não há propriamente uma indústria de cinema em Portugal. Apesar disto, o ator considera que há “muita vontade e criatividade” no meio cinematográfico. “João Maia, lutaste e conseguiste fazer um filme que muita gente viu e vai ver, obrigado por não teres medo”, acrescentou o ator.

Sérgio Praia entrou a cantar no palco e disse que demoraram 15 anos pra conseguirem filmar “Variações”. Declara que só foi possível concretizar a obra por “essa força mágica” que diz ser o amor. O filme também venceu o prémio de melhor caracterização, com o trabalho de Magali Santana.

Outras premiações

“Actos de Cinema”, de Jorge Cramez, foi eleito Melhor Filme na Seleção Outros Olhares. Jorge Cramez esteve no Caminhos do Cinema Português desde que começou a filmar, em 2000. O realizador confessou que foi informado da premiação quando estava a preparar a segunda parte de “Actos de Cinema”. Finaliza com um desejo: “Espero que tenham uma noite fixe”.

Na Seleção Ensaios, “Day Release”, de Martin Winter, venceu como Melhor Ensaio Internacional. “Quem me dera em vez de uma câmera ter uma mosca”, de Cláudia Craveiro Santos, venceu o prémio de Melhor Ensaio Nacional. Na cerimónia, Cláudia Craveiro Santos disse ser “uma honra fazer parte deste festival português” e espera voltar à participar do Caminhos.

Os jurados da Imprensa Cision atribuíram o prémio homónimo ao documentário “Fordlândia Malaise”, de Susana de Sousa Dias. O filme que também arrematou o prémio de Melhor Documentário da Universidade de Coimbra, na Seleçāo Caminhos. O documentário traça uma memória sobre a cidade amazónica fundada por Henry Ford em 1928.

A distinção seguinte foi o Prémio Don Quixote, entregue pela Federação Internacional de Cineclubes (FICC) a “Cerro dos Pios”, de Miguel de Jesus. O jurado Bruno Fontes revelou que esta obra foi escolhida por ser capaz de transportar os espectadores a um lugar em que o cineasta expõe os medos e a própria vulnerabilidade. O realizador Miguel de Jesus não esteve presente na cerimónia, mas enviou um vídeo de Melbourne, na Austrália. “Não sei que horas serão aí, mas, seja como for, muito obrigado”, brincou.

No final da entrega dos prémios, foi revelado que a próxima edição do Caminhos acontece entre 22 e 30 de novembro do próximo ano. A noite teve apresentações da banda Big Band Rags, da Tuna Académica de Coimbra.

Conheça a lista completa da premiação

Melhor Argumento Adaptado: “O peculiar crime do estranho Sr. Jacinto”, de Bruno Caetano
Melhor Atriz Secundária: Teresa Madruga, “Variações”, de João Maia
Melhor Atriz: Vitalina Varela
Melhor Ator Secundário: Filipe Duarte, “Variações”
Melhor Ator: Sérgio Praia, “Variações”
Revelação: Maria Abreu “Tristeza e Alegria na Vida das Girafas”, de Tiago Guedes
Melhor Animação: “O peculiar crime do estranho Sr. Jacinto”, de Bruno Caetano
Melhor Curta-metragem: “Ruby”, de Marina Galvão
Melhor Longa-metragem: “Alva”, de Ico Costa
Melhor Som: David Badalo, “Alva”
Melhor Realizador: Pedro Filipe Marques, “Viveiro”
Melhor Montagem: Francisco Moreira e Ana Godoy, “Alva”
Melhor Guarda-roupa: Patrícia Dória, “Variações”
Melhor Fotografia: Leonardo Simões, “Vitalina Varela”
Melhor Direção Artística: Ana Bossa, “Último acto”
Melhor Cartaz: Inês Bento, “Ruby”
Melhor Caracterização: Magali Santana “Variações”
Melhor Trilha Sonora Original: Normand Roger “Tio Tomás, a Contabilidade dos Dias”, de Regina Pessoa
Melhor Argumento Original: José Filipe Costa, “Prazer, camaradas!”
Grande Prémio do Festival: Vitalina Varela

Fotografia de destaque: Vitalina Varela recebe o prémio de Melhor Atriz

Fotografias por Nino Cirenza

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