Ensino Superior

Democracia, economia e solidariedade: a conferência de Jean-Louis Laville na FEUC

Pluralismo e cruzamento de saberes foi tema central. O sociólogo lembrou ainda a importância de “questionar paradigmas sociais”. Por Francisco Barata e Bruno Oliveira

Nesta tarde de segunda-feira, decorreu na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) uma conferência com o tema “Economia, democracia y solidaridad. Desafios actuales”. Na sala Keynes estiveram presentes vários oradores, com particular destaque para o economista e sociólogo Jean-Louis Laville. A apresentação contou ainda com comentários de João Rodrigues e Pedro Hespanha, ambos professores da FEUC.

No programa constou ainda a apresentação do livro “Theory of Social Enterprise and Pluralism: Social movements, solidarity economy and the global south”. Contou com a presença dos coordenadores Philippe Eynaud e Luciane dos Santos, para além do supramencionado Jean-Louis Laville.

O professor francês trouxe até à FEUC temas sobre os quais se tem vindo a debruçar ao longo da sua carreira. Teve como mote a questão da economia solidária e social, partindo para uma reflexão sobre democracia e economia. Esclareceu conceitos como “economia social” e a sua diferença do “associativismo solidário”.

O sociólogo lembrou a necessidade de “questionar paradigmas sociais”, tendo o seu discurso tocado ainda no neoliberalismo. Durante a palestra alertou para “tentativas de corrigir o capitalismo para lhe dar uma finalidade social” e como estas servem para “legitimar modelos neoliberais”. Jean-Louis Laville sublinha ainda a importância das “Epistemologias do Sul” de Boaventura Sousa Santos, e a necessidade adjacente a esta ideia de “pensar sobre os possíveis cruzamentos de saberes” e criar “condições de diálogo entre estes”.

Nos comentários que se seguiram à intervenção do autor francês, João Rodrigues falou da importância de “olhar para a história e resgatar experiências subalternadas”, dando como exemplo de florescimento do associativismo sindical a experiência da “Viena Vermelha”. O professor da FEUC associa ainda a “hegemonia do neoliberalismo” a um “enfraquecimento do estado social”.

A segunda metade da conferência foi dirigida por Philippe Eynaud e Luciane dos Santos com o objetivo de apresentar o livro “Theory of Social Enterprise and Pluralism: Social movements, solidarity economy and the global south”. A obra reúne vários autores com o propósito de tratar diversos temas e conceitos.

Entre os vários assuntos abordados nesta obra, o professor Philippe Eynaud destaca a “necessidade de repensar a economia” e o pluralismo económico. Já Luciane dos Santos lembra vários conceitos e ideias que são “descortinadas” ao longo do texto. Uma dessas noções é a de ‘Social Enterprise’ sobre a qual a investigadora indica que “a ideia que lucro pode levar a objetivos sociais é atrativa num período de austeridade”.

Luciane dos Santos aponta a relevância de alargar o imaginário económico, pois “este está contaminado pela ideia de mercado”. Reitera ainda que é preciso trazer “para o centro do debate a redistribuição e a integração económica”. A obra procura consolidar “a ideia de economia não mercantil”, através de “contributos pragmáticos, mas epistemológicos”, assinala. O livro “coloca em cheque alguns termos e conceitos que à partida parecem essências e indispensáveis”, conclui a investigadora.

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