Cultura

“Carne Doce” por Coimbra

D.R.

Banda brasileira vai atuar na cidade e escolheu o Salão Brazil como espaço para o concerto. Este grupo de indie rock chega pela primeira vez a Portugal e promete marcar o público lusitano. A vocalista Salma Jô, os guitarristas Macloys Aquino e João Victor Santana, o baixista Anderson Maia e o baterista Frederico Valle compõe os elementos da banda. O Jornal A Cabra esteve à conversa com a cantora e compositora Salma Jô para ficar a conhecer curiosidades e ambições. Por Tomás Barros

Como é que surgiu a banda e como foram os primeiros anos?

A banda surgiu de um relacionamento meu com Macloys. Nós já estávamos morando juntos há uns 3 anos, ele já tinha experiência com bandas, eu era bem amadora, mas a gente tava com uma certa ânsia de criar um disco e resolvemos fazer alguma coisa juntos. Eu já tinha umas letras, ele tinha umas bases e a gente juntou e criou a Carne Doce. Isso já tem uns 5 ou 6 anos. A banda tem três discos, começou de um casamento que virou uma banda, que se transformou num projeto e que foi crescendo até então.

Porquê Portugal como primeiro país para dar inicio à ‘tour’ internacional?

Na verdade eu acho que a gente até tem demorado um pouquinho. Deveria ter vindo no segundo disco, mas veio num momento em que realmente se pôde, sem arriscar assim muito a nível financeiro nem destabilizar a banda. Sempre pensámos em Portugal também por causa da língua devido às nossas letras, que no projeto é muito importante.

Cá em Coimbra existe uma grande quantidade de estudantes brasileiros. Contam com o apoio do público brasileiro em Portugal?

Temos um bom público brasileiro e português, que temos querido conhecer e descobrir quem é, e também como é que eles nos descobriram. Mas, vai ser misto. Pelo menos espero que seja, não gostaria de tocar só para brasileiros aqui (risos)

Como é o processo criativo da banda?

Geralmente surge comigo com as letras, mas também pode surgir com uma base de alguns dos meninos. Assim, eu surjo com uma letra e eles compõem em cima. Eu não toco nada, apenas faço a letra e, às vezes, a melodia. É um casamento da letra com a base que nós arranjamos.

Existem alguns artistas que vos tenham influenciado?

Isso é difícil de dizer porque cada membro da banda tem uma influência diferente. Eu por exemplo, tenho uma influência da música brasileira com nomes como Chico, Caetano, Gil. Contudo, o Macloys já tem uma influência mais dos anos 80. Acho que os restantes membros já têm um toque de ‘indie’ mais forte e mais contemporâneo. É uma mistura de todas essas referências.

Quais são as temáticas abordadas pela vossa música? 

São diversas mesmo. Os jogos de poder, as relações mais íntimas com o companheiro ou a família, as paixões violentas, o sentimento de rejeição e também a forma de se ver no mundo. Também falo muito sobre ser mulher, mas não é um foco falar sobre o feminino e nessas perspectivas.

Na música “Falo” há um toque bastante forte no feminismo não é verdade?

Sim. Inclusive algumas pessoas ficaram a pensar que a banda tinha um perfil feminista mas em 35 músicas devem haver duas que abordam que abordam o tema. Não vejo “Falo” como um hino feminista, porque ela (personagem da música), é muito individualista, ela fala de um problema pessoal. Trata-se de uma personagem que não representa todas as mulheres, é uma mulher específica, que está irritada com problemas próprios e do seu quotidiano. Porém, fala sobre isso de uma forma feminista. A outra música seria a “Artemísia” que é sobre o aborto. Foi um dos momentos em que explorei esse assunto.  No entanto, eu não estou focada em escrever apenas sobre feminismo.

Quais são as diferenças de destaque entre os dois últimos álbuns?

O “Princesa” era mais rebelde, nervoso, explosivo e um pouco mais gritado. O “Tônus”  ficou mais calmo. Acho que a banda ganhou uma maior maturidade até porque já tínhamos uma boa experiência de palco e de estrada e já nos conhecíamos melhor. No fundo estávamos bem mais entrosados como banda. As dinâmicas ficaram bem mais calmas, com espaço para cada um de nós aparecer e brilhar. Também eu cantei de forma mais suave e as escolhas que fiz na hora de compor as letras foram no sentido de tentar emocionar mais pessoas e de contar uma história que pudesse ser comovente para muitos. Considero que no “Princesa” eu estava mais irritada e talvez a sentir uma maior necessidade de abordar alguns assuntos de uma maneira específica. No entanto, procurámos desde o nosso primeiro disco deixar essa nossa marca de um tom mais confessional e de colocar o dedo na ferida.

Participaram no festival Lollapalooza. Como foi a experiência de atuar num evento desta dimensão?

Foi muito bom, mas, honestamente, foi só pelo facto de tocar num festival. Isto porque na verdade nós tocámos mais cedo para um público pequeno e, por isso, esse festival não foi tão impactante quanto outros espetáculos. Mas, o simples facto de nós estarmos no ‘line-up’ do festival traz prestígio e é um reconhecimento da nossa importância e da capacidade de fazer um bom ‘show’.

Quais são os planos para o futuro após este ‘tour’?

Já estamos compondo músicas para um novo disco que vamos lançar no ano que vem e esperemos que para o ano voltemos a Portugal para outro ’tour’. Queremos também que esta primeira ‘tour’ cause um bom impacto e que as pessoas fiquem impressionadas com o ‘show’  e que nos queiram ver de novo.

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