Desporto

[II Liga] AAC vs Covilhã – os estudantes, um a um

A balada tocou e a despedida deixou de ter encanto. Paulo Sérgio Santos e João Pimentel relataram, entre outras desventuras, o desvanecer de uma realeza, uma efémera adaptação a trinco e uma menção honrosa aquática. No final, houve ainda tempo para fazer uma análise ao tempo de (possível) mudança que vive a Briosa. Fotografia por Nino Cirenza

Espécie de editorial

É a despedida de uma época que começou cinzenta, passou por um tom qualquer de euforia e entusiasmo, e acabou hoje, para quem segue os jogos no antigo Calhabé. Um destes vossos escribas ainda lá viu jogos, qualquer um deles com mais pessoas do que aquelas que presenciaram as partidas desta época.

Este não é um trabalho jornalístico e, por isso, imparcial. Não o é porque apenas pontuamos os jogadores que vestem de negro. Fazemo-lo há três anos, desde que o Expresso o fez para a seleção que se viria a sagrar campeã europeia, corria o ano de 2016. Hoje, mesmo sabendo de antemão que era um jogo já sem grande história, para além daquela que é contada por um resultado final, o fim foi aquele de um encerrar de época em que o estar em campo foi igual ao que teria sido ficar em casa, com menos um golo na derrota.

Pensámos correr os jogadores a dois, o número de golos sofridos; ou a posição que, há umas semanas, era a ambicionada; ou o de uma série de acasos que marcaram este domingo de quem vos escreve, também, a dois. Mas daremos a pontuação justa, como sempre damos, para quem já anseia pela nossa crónica.

p.s. – nada, NADA, justifica agressões, insultos. Mesmo nada. Pessoas desse calibre deveriam ser impedidas de entrar nos estádios de futebol. A vida não depende de um jogo de futebol, para que nele, ou nos seus intervenientes, se descarregue toda a frustração acumulada.

Júlio Neiva – 5

So… Primeiro jogo a titular da época e um pequeno reparo: quando se sai a um cruzamento, é com as duas mãos, pá! Como a velha máxima futebolística: passa a bola, mas não o gajo. E se puder ser com um banano, melhor. Portanto… O cinco é mesmo porque no segundo golo, vá, podia não ter sido e pronto, é isso. Não, esperem… Mais algumas hesitações durante a partida e tal.

Jean Filipe – 1

Poderíamos entrar em considerações técnico-táticas sobre a exequibilidade do seu nome, da adequação de junção de dois nomes de origem diversa. Mas, no final, o que interessa? Aquele passe fantástico para o golo da Académica do Covilhã. Dica: o um não é a nota máxima.

Nélson Pedroso – 5

Aqui poderíamos questionar porque é que só nestes últimos jogos é que Nélson Pedroso aparece. Nos últimos jogos das últimas épocas. Mas a verdade é que apareceu bem. E mais vale aparecer bem do que nunca.

João Real – 4

O dia em que a realeza sucumbiu a uma existência mundana e decadente. Um dia haverá que a realeza deixará de existir. Será um dia triste para nós, pelos anos que tem de casa. Hoje foi um dia menos bom, graças ao passe assassino do súbdito Jean. A feira medieval acaba hoje, é de aproveitar.

Yuri Matias – 4

Acabamos a época a pensar exatamente no mesmo que temos dito ao longo destes meses: tem potencial, há dias onde consideramos que vai resolver todo e qualquer problema de passivo (ou parte dele), mas há outros em que é o que é, mais um defesa. Já agora, o que aconteceu ao William?

Zé Castro – 3

15’: epá, temos trinco, grande adaptação! (fez um passe fantástico com a parte externa do pé, colocámos a fasquia muito baixa)

27’, 37’: retiramos o que foi dito anteriormente.

Reko – 4

É com estranheza que toda a gente o vê a fazer jogos pouco assertivos. Talvez seja porque a época está no final e já só pensa em paisagens paradisíacas e água de coco. Por agora, resta-lhe a relva, a Póvoa e uns lobos do mar. O último obstáculo pela frente.

Romário Baldé – 4

É maior dificuldade (do que o normal) que fazemos esta avaliação. O problema de Romário é já mais do que conhecido, a decisão final. Mas o problema de grande parte dos adeptos do nosso querido Portugal não menos conhecido é. Frustração e muito pouca noção. Só assim é possível explicar as tentativas de agressões ao número 17, ora dentro de campo com garrafas ora no exterior.

Jonathan Toro – 3

Dos piores jogos que o vimos fazer. E, muito provavelmente, o último.

Femi – 3

Foi aposta para o que restava da época na perspetiva de ajudar na subida de divisão. Não sabemos se foi pelo tempo perdido com a questão do visto do jogador, o que é certo é que este Femi ficou aquém do pretendido. Mas aqui vai uma menção honrosa para o seu lance ao minuto 31:

Hugo Almeida – 2

O melhor marcador dos estudantes acabou o campeonato dos jogos caseiros sem marcar. Sejamos sinceros, um ex-campeão europeu tem mais que fazer do que jogar a feijões, a um domingo à tarde, para a II Liga. Vem aí o verão, fiquem atentos ao futevólei.

Brendon – 1

Entrou para o lugar de Jean Filipe, que não estava a ter um dia bom. Brendon, por sua vez, teve um dia para esquecer.

Traquina – 4

O número 20 foi o que mais lutou e quis reverter o resultado. Posto isto, foi pena ter entrado apenas ao intervalo.

Marinho – 4

Vê-lo em campo é sempre uma honra, mesmo quando não é dia de explosões consequentes. Convenha-se, nem sempre o dia é de sorte quando se sai do banco. Mas capitão é capitão, e ir falar com uma série de “adeptos” (sim, as aspas são propositadas) é sê-lo com C.

João Alves – 5

O que podemos dizer do técnico que apanhou a equipa nos últimos lugares da tabela e a colocou, na reta final, a lutar pelos lugares de subida? Podia ser melhor? Neste caso, muito dificilmente. Agora ficamos à espera de saber como será a próxima época. Será com o “luvas pretas”? É uma das grandes incógnitas que se avinha para o futuro da Briosa.

Fazemos aqui a pergunta que gostaríamos de ter feito na conferência de imprensa: sendo para continuar, com condições de subida, não se deveria já ter começado a preparar a próxima época?

Vazio – 10

De ideias. De vontade. De quase tudo. O problema já se conhece, não é de agora. A cidade não é de futebol, e longe vão os tempos do jogador-estudante. Hoje a camisola já pouco vale, pouco mais do que o material de que é feita. A realidade conta-se com dois ditados: “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão” e “quem não tem dinheiro, não tem vícios”.

Se não há dinheiro, o caminho é relativamente simples. Há que optar por uma prospeção efetiva dos escalões inferiores, apostar na formação, quiçá voltar a essas décadas de ouro do século passado, precisamente com a figura do jogador-estudante. Siga-se o exemplo do Athletic. O País Basco tem pouco mais de dois milhões de habitantes. Que a Académica aposte no jogador lusófono, em dar-lhe uma formação de qualidade. Renascer a identidade que a indústria do futebol fez desvanecer.

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