Ensino Superior

Realização de reportagens em zonas perigosas pelos olhos de Cândida Pinto

André Crujo

Jornalista refere que é preciso ter sangue frio para lidar com as situações de stress. “Ninguém sai incólume deste tipo de situações”. Por André Crujo e Frederico Magueta

Muitas vezes escolhida como enviada especial da Rádio e Televisão de Portugal (RTP), Cândida Pinto, que está apenas há 48 horas em Portugal, mostrou alguns dos seus trabalhos feitos em cenários perigosos, como o terramoto no Haiti e a mudança de regime na Líbia. Após chegar de um trabalho em Moçambique, a jornalista deixou transparecer a sua experiência pelas histórias que contou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, no dia quatro de abril.

“É a minha praia”, diz Cândida Pinto sobre a criação de reportagens. Neste contexto, acrescenta que “é o sangue que corre nas veias do jornalismo”. No entanto, afirma que é preciso manter o sangue frio em situações arriscadas e partir sempre para o terreno sem dar nada como adquirido. Dá como exemplo Marie Colvin, jornalista premiada que acabou por morrer em trabalho, na Síria, devido a uma transmissão para a CNN, que foi intercetada.

A preparação para uma viagem deste cariz começa ainda em Portugal, com a recolha de contactos relevantes para a concretização da reportagem. Explica que “ir com um plano é necessário”, mas é importante manter-se flexível – a realidade pode ser diferente do que se espera. Cândida Pinto explica que é essencial falar com as pessoas. “Quando se está no meio das situações, o difícil é escolher as histórias”, refere. É preferível fazer uma escolha e levá-la até ao fim, para que a informação não se torne muito confusa para o próprio jornalista.

“Ninguém sai incólume deste tipo de situações”, afirma, ao ilustrar os efeitos psicológicos que estas provocam. Acrescenta que, por vezes, são as pequenas coisas que a deixam de rastos. A jornalista descreve isto com o exemplo de uma mulher que esteve durante sete dias num rio, a ser atacada por insetos. “Não consegui dormir e tomei uns 20 banhos durante a noite”, confessa. “Só é um jornalista de corpo inteiro quem vai aos locais”, apela Cândida Pinto. Com isto, incentiva a que se faça um melhor jornalismo, numa época infetada pela desinformação. Considera que é importante o jornalista ser curioso e ter uma cultura “bastante ampla”, assim como ser absolutamente honesto. “O único património do jornalista é a sua credibilidade”, termina.

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