Ensino Superior

FLUC sob o efeito de Marcelo Rebelo de Sousa

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Fenómeno originado pelo Presidente da República analisado à lupa em conferência. O antes e o depois da participação no comentário político em televisão revisto na academia. Por Patrícia Silva

A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra recebeu esta terça-feira, dia 12 de março, a professora da Universidade Católica Portuguesa (UCP), Rita Figueira, para uma palestra desencadeada a partir do livro “O efeito Marcelo: O comentário político na televisão”, de sua autoria . O evento procurou  debater a importância  do atual Presidente da República, Marcelo Rebeldo de Sousa, na “construção do comentário político” e perceber  como, assim, “podemos entender a sociedade portuguesa”.

O Presidente da República passou por inúmeros meios de comunicação e iniciou uma nova era do comentário político ao “criar um formato diferente do que havia até então em Portugal”, explanou Rita Figueira.  As alterações estabelecidas por Marcelo Rebelo de Sousa prendem-se com a duração do comentário político, “que passou a ter 40 minutos”, com a  linguagem, marcada por “expresões populares e coloquiais”, ao invés da antiga forma institucional. Deste modo, explica Rita Figueira, “as mensagens passaram a chegar com maior clareza à população com menor escolaridade”.

A relação entre jornalista e o comentador também foi modificada. A professora da UCP, declara que “antes o jornalista decidia os temas, a duração das respostas e comandava toda a interação”. Com o aparecimento de Marcelo Rebelo de Sousa, os comentadores começaram a controlar toda a ação desde “a escolha de temas, a perguntas que lhe vão ser feitas”e “99% do tempo é ocupado pelas suas apreciações”, explica a convidada da conferência.

Segundo a oradora, o atual Presidente da República é o “oposto de Cavaco Silva” a nível da popularidade e relação com os meios de comunicação social. As competências adquiridas na televisão facilitaram a forma de Marcelo Rebelo de Sousa “comunicar com a população” e contribuiram para a criação de “uma maior proximidade e empatia com o público”, afirma Rita Figueira.

A professora universitária não esquece as disparidades de géneros no jornalismo e no comentário político. “Há uma disparidade de comentadores homens em relações ao números de mulheres”, lembra a oradora. As razões apontadas para esta situação estão ligadas com o facto de “a maior quantidade de políticos serem do sexo masculino”, área profissional recrutada para comentar a atualidade. Rita Figueira considera que “a forma como os media mostram as mulheres, enquanto celebridades, vítimas ou vozes populares”, leva à criação de uma imagem errada.

A fechar a sessão, a professora da Universidade Católica Portuguesa, lembra que, no quotidiano, “assistimos a uma progressiva aposta em espaços de comentário nos meios de comunicação”. Segundo Rita Figueira, “os comentários são usados como ferramenta estratégica por parte de quem os pronuncia”. O objetivo é “construir visibilidade e um percurso político”, assim como criar uma “base de apoio e um certo grau de afinidade com a população”, conclui.

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