Cultura

Documentário ‘O Salto’ foi exibido e debatido no Colégio de Nossa Senhora da Graça

Nino Cirenza

Curta metragem aborda o tema da emigração política e económica durante a ditadura em Portugal. “Caminhos que Abril abriu” decorre no âmbito da XXI Semana Cultural da UC. Por Nino Cirenza e Gabriella Kagueyama

O Colégio de Nossa Senhora da Graça, foi o lugar escolhido para a presentação da curta metragem, ‘O Salto’,  do realizador Luis Godinho. O filme foi projetado no contexto da XXI Semana Cultural da Universidade de Coimbra (UC). “Caminhos que Abril Abriu” é o título do ciclo que aborda a questão dos exilados, desertores e emigrantes portugueses durante o período salazarista.

‘O Salto’ expõe a história de 17 jovens de Évora, que influenciados pela contracultura dos anos 1960 e que estavam insatisfeitos com o regime, decidem ‘dar o salto’ e emigrar para outros países.

Rui Bebiano, professor e investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) da UC, explica que o nome da conferência é uma paráfrase do poema “Portas que Abril Abriu” de José Carlos Ary dos Santos.  O investigador recitou a primeira estrofe do poema antes da exibição do curta metragem: “Era uma vez um país/ onde entre o mar e a guerra/ vivia o mais infeliz/ dos povos à beira-terra.”

O evento também contou com um debate no qual participaram alguns investigadores do CES da UC. Uma das oradoras foi Susana Martins, investigadora de pós-doutoramento do CES. A mesma aponta para a “necessidade de observar essa questão (do exílio) e a tornar pública”. De acordo com o documentário, estima-se que 200 mil jovens portugueses deixaram o país entre 1961 e 1973. Destes 9 mil foram desertores do exército, que ao se recusarem a combater na Guerra Colonial foram expatriados. Susana Martins menciona a existência de redes familiares e de comunidades estendidas em cidades como Paris e Amsterdão “o que tornava mais fácil dar o salto”.

 Outro orador, Miguel Cardina,  também investigador do CES, alude para a relevância da documentação das narrativas individuais, para “perceber o impacto da recusa da guerra na perda de legitimidade do regime”. Para Rui Bebiano, este é ainda um tema pouco explorado, “o que é estranho, porque foi vivido por muitos portugueses”, afirma. O investigador reforça a necessidade  de analisar e debater a questão dos emigrantes e desertores.  “Desertar é um ato de coragem. Não é algo para se envergonhar”, conclui.

O ciclo “Caminhos que Abril Abriu” é também composto por uma exposição fotográfica documental feita a partir da produção de Susana Paiva. A mostra ainda apresenta um acervo de objetos utilizados para a falsificação de documentos dos emigrantes.  A exposição tem lugar no Colégio da Graça até o dia 30 de abril.

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