Com “um lugar reservado no panorama nacional”, o Festival Encontros de Novas Dramaturgias (END) decorreu de 27 a 29 de março, em diferentes espaços da cidade. Refletindo práticas de escrita e criação contemporâneas, os espetáculos apresentados tiveram “uma boa adesão do público”. Fica para a próxima edição uma promessa de continuidade e crescimento, uma vez que o plano passa por expandir o festival a outra cidade portuguesa. O diretor do TAGV, Fernando Matos Oliveira, faz um balanço da edição deste ano. Por Isabel Pinto
Consegue fazer um comentário geral ao teatro académico?
Este evento assume a forma de um festival. Esta, que é a quarta edição, coincidiu com o Dia Mundial do Teatro porque nos pareceu que a melhor forma de celebrar a data seria convidar o público a assistir a uma série de peças que permitem avaliar o estado da arte contemporânea. Apresentar estas novas linguagens e criações foi uma forma de ampliar a comemoração.
Como surgiu a ideia de criar o Festival END?
O festival nasceu em 2010, no Teatro D. Luís, um teatro municipal em Lisboa. Foi e continua a ser promovido por um antigo aluno de Estudos Artísticos da Universidade de Coimbra, Mickael de Oliveira. Nesse ano, o festival foi capaz de traçar um retrato do teatro português que se fazia na época. A primeira edição do END deixou uma marca no meio, pois contou com a presença de convidados e artistas internacionais. A edição seguinte demorou cinco anos a chegar a público, uma vez que entendemos que a sobrevivência do projeto dependeria de o passarmos a coproduzir aqui em Coimbra. Repetiu-se em 2017 e, agora, em 2019. De edição para edição, o festival cresceu. Atualmente, podemos dizer que tem um lugar reservado no panorama nacional, conquistando a atenção dos criadores de teatro.
Como é que definiria o festival?
A melhor definição do Festival END é o próprio título, ou seja, é um festival vocacionado para as novas dramaturgias, desdobrando-se entre a escrita para teatro e as práticas que sinalizam transformações nos processos de escrita e de criação. Daí que a iniciativa seja tão particular: procura captar o processo de escrita das novas gerações e, acredito, não haverá mais festivais em Portugal a fazê-lo. Também une comunidades de alunos e professores de todo o país que se juntam nestes três dias de celebração do teatro contemporâneo.
Qual é o público-alvo destas novas dramaturgias?
Fazemos convergir diferentes públicos. Temos, por um lado, os especialistas, alunos e professores que nos visitam, por outro lado, as turmas de estudantes da própria Universidade de Coimbra que se interessam pela criação de arte em contexto académico, mas também contamos com a divulgação nos ‘media’ nacionais. Passando da plateia para o palco, o facto de algumas peças serem representadas por artistas que aparecem na televisão também contribui para alcançar todos os públicos.
Quais eram as expetativas ou objetivos para este ano?
Era justamente consolidar o trabalho que tem vindo a ser feito. O que também tem sido um esforço é acompanhar algumas das criações e ver como é que elas cresceram, como é que os seus autores evoluíram. Por exemplo, este ano, e porque o TAGV tem um programa de edições para teatro, editámos dois ou três livros que nasceram no contexto do END, portanto tudo isso consolida o que são estas práticas de escrita e criação contemporâneas.
Que falhas ou aspetos a melhorar aponta?
Não sei se se pode falar em falhas. O festival pretende construir a sua identidade e consolidar o seu projeto de festival. O que representa potenciais melhorias? Envolver mais criadores, aumentar o número de eventos e de edições. Esses são os desafios, é tornar o projeto mais sólido e melhorar a relação com o ensino. Nisso podemos sempre trabalhar, embora ele já tenha um lugar muito reconhecido no panorama nacional.
Ideias, projetos ou “promessas” para a próxima edição?
Na próxima edição, não podemos revelar ainda, mas estamos a trabalhar com um parceiro grande para que esse festival possa ocorrer em duas cidades ao mesmo tempo. Em Coimbra e noutra cidade. Será esse, eventualmente, o caminho da edição de 2021.
Como funciona a seleção dos artistas e dos espetáculos postos em palco?
Isso é uma decisão da direção artística do festival porque parte de uma observação do que vai acontecendo a cada dois anos. Vão-se sinalizando projetos, autores, criadores e vai-se construindo, depois, em função disso. Ou seja, todos esses processos de trabalho que vão acontecendo e que tenham a ver com aquilo a que chamamos de “novas dramaturgias” são depois convidados. Obviamente, há também outras questões, económicas e de disponibilidade de agenda, como é normal.
Comparando com a edição passada, o que é que mudou?
Não mudou substancialmente a identidade do projeto porque não queremos que ela mude. Queremos continuar a persistir porque uma das questões fundamentais neste projeto é a continuidade. É isso que gera adesão, partilha e envolvimento de agentes e criadores. A continuidade é fundamental porque o teatro já tem muitas descontinuidades em Portugal. Fizemos foi mesmo o esforço de consolidar o projeto e fazer com que ele, aqui em Coimbra, tivesse uma expressão em vários locais. O TAGV, a Casa das Caldeiras, envolvemos também, e de forma mais intensa, o Teatro Paulo Quintela, que foi requalificado e agora permite fazer mais coisas e acolher mais espetáculos, a Casa da Escrita. Portanto, tentámos criar mais território.
Que balanço faz da edição deste ano?
O balanço é extremamente positivo. Tivemos uma adesão muito boa do público, das pessoas que convidámos, dos parceiros e, portanto, ter também um bom retorno no meio foi ótimo. O que queremos agora é que a edição de 2021 possa ser esse momento de crescimento que desejamos e também de expansão para outra cidade.
Há alguma coisa que queira salientar?
Salientar a relação forte de identidade que existe entre este projeto e a natureza do TAGV como teatro da Universidade de Coimbra. O TAGV nasceu legitimado pelo teatro na universidade e este festival é fiel também a essa origem. Isso para nós é uma motivação adicional.
