Ensino Superior

Traumas do jornalismo de guerra aos olhos dos profissionais

Gabriella Kagueyama

Alerta aos jovens da comunicação social para esta questão. Apoio e trabalho de equipa motiva o tratamento do SPT. Por Gabriella Kagueyama e Diana Ramos

A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) foi palco, na passada quarta-feira, do Colóquio “Media e Trauma”. O encontro foi marcado pela presença de jornalistas e investigadores que discutiram situações traumáticas ao exercer jornalismo em zonas de conflito. A iniciativa parte da colaboração da secção de Comunicação da FLUC e do Centro de Trauma do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES). Na perspetiva jornalística contou-se com a participação de José Manuel Rosendo e Paulo Moura e do ponto de vista académico com Diana Andringa, Joana Becker e João Luís Fernandes.

No primeiro painel, os convidados basearam-se nas suas experiências profissionais para analisarem a problemática dos traumas. Expôs-se que os jornalistas apesar de manterem uma faceta distanciada, a posteriori são atingidos emocionalmente. Para Paulo Moura, “o papel do jornalista é ver, observar, fazer entrevistas, investigar e depois escrever”. Acrescenta que “a própria natureza do trabalho é a principal ajuda para lidar com qualquer choque traumático que possa haver” ao relatar os conflitos.

José Manuel Rosendo afirma que “observar, relatar e escrever as notícias de cenários traumáticos” faz com que haja uma envolvência com a situação. O stress pós-traumático (SPT) surge após o regresso “ao cenário normal da vida”. Esta questão é também vista nas redações como um sinal de fraqueza dos jornalistas.

Fotografia: Gabriella Kagueyama

Já o segundo painel, representado por convidados do CES, levou o debate para o plano do síndrome psicológico, tanto dos profissionais como das vítimas. Diana Andringa, enquanto jornalista e investigadora do tema, legitima que a resistência e a distância total do redator em cenários de guerra é fantasiada. Refere ainda que o jornalista tem o compromisso de informar com rigor e precisão esses acontecimentos, pois “contar as histórias, de forma correta, pode ser uma forma de exprimir o trauma”.

Joana Becker alerta para a necessidade da consciencialização na camada mais jovem da área de comunicação. “O apoio de colegas da equipa de redação estimula o tratamento do SPT porque tira a culpa e valida os sentimentos”, afirma a oradora. No âmbito antropológico, João Luís Fernandes, professor de Geografia da FLUC, afirma que os traumas são contextualizados no espaço e no tempo e, por isso, deixam marcas nas paisagens. Advertiu também para o lado tóxico do turismo, que cada vez mais procura um consumo de tragédia e a sua exploração comercial.

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