Cultura

“Mais do que colocar um texto em cena”, CITAC interpreta “Os Sapatos”

A identidade e o conflito social são conteúdos abordados de forma “introspetiva”. Encenação assume-se como “um olhar ao espelho” e um drama que não é extremamente dramático”. Por Ana Lage e Ana Santos

O Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC) vai expor, entre os dias 15 e 21 de dezembro, a peça inspirada no texto de Yvette Centeno, “Os sapatos”. O teatro-estúdio do CITAC, situado no 1º piso do edifício da Associação Académica de Coimbra, vai acolher a mesma encenada por dez atores.

Associada à Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, esta integra-se no tema “Curar e Reparar” que é comum a toda a Bienal. Os mesmos aproximam-se através de personagens, que se encontram “em crise existencial e em crise de identidade”, segundo Cheila Pereira, uma das encenadoras.

A identidade e o conflito social são conteúdos abordados de forma “introspetiva”, segundo Margarida Cabral, também encenadora. Na questão da identidade aborda o feminino e o masculino, não como uma questão de género, mas como elementos que pertencem a cada ser humano, sem se contrariarem. A encenadora acrescenta ainda que a peça “é como um olhar ao espelho, que permite ver a própria metade”.

Este espetáculo é, segundo Cheila Pereira, “um drama que não é extremamente dramático”. A evolução das personagens, bem como as suas mudanças de estados e emoções, distanciam esta peça das adaptações clássicas. Ou seja, segundo a encenadora, “é mais do que colocar um texto em cena”, já que não utilizam nenhuma palavra do texto original.

As encenadoras esclarecem o caráter interpretativo por parte da equipa teatral, uma vez que, apesar do conteúdo ser o mesmo que o original, é encenado de forma a transmitir uma mensagem de reflexão. Cheila Pereira exemplifica esta índole ao contar a história de “duas velhas, uma vestida de branco e outra de preto”. No texto de Yvette Centeno, “a velha de preto enrola uma corda até ao pescoço da velha de branco”. A análise feita pela equipa teatral desta passagem remete para o decurso do tempo, envelhecimento e consequências do mesmo. A atriz, Letícia Moro, define ainda “o tempo como uma prisão”.

A carga emocional e os conteúdos visuais desta encenação fazem com que a mesma se torne num “exercício estético e contemplativo”. Esta peça, aberta a toda a comunidade estudantil, apesar de não ser um elemento político, trata a influência da sociedade no ser.

Fotografia por Joana Pedro 

 

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