Conselho Geral

Renato Pires: “Queremos discutir a vertente social do desporto universitário” [entrevista na íntegra]

Renato Pires, representante dos estudantes do primeiro e segundo ciclo de estudos no Conselho Geral, garante que, entre os seus objetivos, o principal passa por representar os interesses da comunidade estudantil. Por Cristina Oliveira

Que balanço fazes das eleições para o Conselho Geral [CG]?

Nestas eleições houve um aumento de estudantes em comparação com as eleições dos anos anteriores. Conseguimos ultrapassar os mil votos, cada uma das listas. Quando temos cerca de 3400 pessoas a votar num universo eleitoral de 17 mil, é uma conquista das próprias listas porque conseguimos aumentar o número de votantes. Isso prova que conseguimos atingir um dos objetivos a que nos propúnhamos, que era aproximar os estudantes do Conselho Geral [CG].

Foi um resultado histórico para todos. E para nós, que alcançámos perto de 1300 votos, é uma responsabilidade. Esse aumento era algo que esperávamos e foi um dever que cumprimos.

 

Disseste que o número de votantes aumentou este ano. No entanto, ainda há muita gente que não sabe o que é o CG. Achas que esse desconhecimento, por parte dos estudantes, se verificou nas eleições?

Aquilo que continua a acontecer é um grande desconhecimento do que é o CG. Ao haver essa maior afluência às urnas conseguimos ultrapassar isso, embora reconheça que continua a haver bastantes estudantes que não têm conhecimento do que é. É um trabalho que teremos de fazer ao longo de todo o mandato e de modo um pouco diferente do que tem sido habitual, para que, daqui a dois anos, quando houver novas eleições, haja um maior conhecimento do que é o próprio órgão e de qual é que é o papel dos conselheiros gerais.

 

Qual é que pensas ser a principal razão para esse desconhecimento?

Há culpa tanto dos membros do CG, como da parte dos estudantes que têm representado, porque acabam por se fechar dentro daquilo que é o trabalho dos conselheiros gerais. Não se abrem, no sentido em que não transmitem essa informação nem aquilo que se passa. É isso que queremos mudar.

Vamos continuar a fazer aquilo que fizemos ao longo de toda a campanha: o trabalho das comissões que iniciámos e que tem vindo a ter bons resultados. Em princípio, daqui a três dias já haverá nova reunião das comissões, para continuarmos a trabalhar nelas.

Uma vez que está ultrapassado o tempo das eleições, queremos que os elementos que apoiaram as outras listas possam também integrar essas comissões. O objetivo era que as veiculássemos a todos os elementos e ver se, da parte dos outros eleitos, haverá essa abertura. Queremos que mais estudantes se envolvam nas decisões do CG.

 

Já que falas nas comissões. Como é que elas vão funcionar?

Ainda estamos a pensar em termos de funcionamento, isto é, o período em que as comissões se vão reunir. Vão funcionar sempre divididas por áreas. Dividimos em cinco comissões, às quais estão ligadas diversas matérias. O objetivo é que elas trabalhem sempre com os relatórios oficiais do CG e que esses relatórios apresentem algumas recomendações. Depois, há que verificar se estas foram cumpridas. O que não for cumprido, é preciso ver o que é que se pode fazer e melhorar, para depois, em reuniões de CG, vermos o que é que pode ser feito.

 

Quais vão ser os principais objetivos a atingir neste mandato?

O principal objetivo é conseguirmos representar, da melhor maneira possível, aquilo que são os interesses dos estudantes. E, dessa forma, dentro daquilo que era também o nosso projeto, é que consigamos, com os restantes conselheiros gerais alcançar aquilo a que nos propusemos.

Queremos discutir o Regime Fundacional, uma redução do valor da propina do estudante internacional e a vertente social do desporto universitário. Mas isso eram as nossas principais bandeiras.

As outras listas, na questão do Regime Fundacional, mantiveram uma abertura para uma discussão do assunto. Isso é o que pretendemos fazer, uma vez que é um dos temas que poderá estar pensado para a próxima reunião do CG. Até lá temos que fazer esse trabalho e, como já temos reunião segunda-feira, vamos começar a trabalhar sobre isso.

Entre outras medidas, tínhamos também a captação dos atletas de alta competição. Uma vez que se aproximam os EUSA Games, temos de ver o que se pode fazer nesse sentido e acolher as propostas dos outros candidatos.

 

Uma das vossas propostas era aproveitar as infraestruturas utilizadas para os Jogos Europeus Universitários. De que modo é que elas podem ser reutilizadas e qual será o impacto na Ação Social Escolar?

O nosso objetivo é que essas infraestruturas criadas sejam aproveitadas para os Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra [SASUC], de forma a transformá-las em residências. Nós tivemos reunião com o reitor e aquilo que ele nos disse é que à partida não haveria a construção de novas estruturas. Nós acreditamos que isso vai acontecer, até porque Coimbra não tem capacidade para acolher aquilo que é a expectativa do número de participantes nos Jogos Europeus Universitários. Elas vão ter de ser construídas e o objetivo é que, depois dos Jogos Europeus Universitários, sejam cedidas aos SASUC e que as transformem em residências, para que se possa alojar mais estudantes carenciados.

 

Quais são as maiores dificuldades que pensas que podem enfrentar nos próximos dois anos?

Como há uma renovação dos conselheiros gerais estudantes, vai haver esse trabalho de nos integrarmos dentro do próprio órgão. Para nós é um novo desafio e contaremos com a experiência dos antigos conselheiros gerais, mantendo o contacto com esses elementos. Dessa forma conseguimos definir uma estratégia que nos permita levar avante aquilo que são os objetivos que temos definidos.

Durante esses dois anos a ideia é que haja uma conciliação entre os cinco elementos representantes dos estudantes mas, para já, a nossa base de trabalho. A partir daí, queremos que haja um maior consenso com os restantes elementos e que, dessa forma, consigamos obter decisões favoráveis tendo em conta aquilo que pretendemos.

 

Como é que pretendes trabalhar em conjunto com os restantes membros do CG?

Isso vai ter que partir sempre do trabalho que fizermos nas reuniões. Esse trabalho tem que ser feito fora delas e o contacto tem que existir. Vai partir de nós e de tomarmos a iniciativa de conseguirmos aproximarmo-nos dos restantes representantes. Dessa forma conseguiremos melhores resultados e esperamos que os restantes elementos sejam sensíveis àquilo que são as matérias que defendem os interesses dos estudantes.

 

Quais são as maiores dificuldades com que os alunos do primeiro e segundo ciclo se deparam?

A questão da propina é uma das questões principais e é sempre do interesse de todos os estudantes que haja uma redução do seu valor. Quer do primeiro, segundo ou terceiro ciclo.

Como sabemos, o valor vai ser outra vez congelado e isso já é uma notícia positiva. Queremos também que, nas questões sociais, como o Programa de Apoio Social a Estudantes através de atividades de tempo parcial, haja uma análise daquilo que é o seu funcionamento que, do nosso ponto de vista, não é o mais correto e não prestigia em nada aquilo que é o trabalho dos estudantes.

Depois, a questão do cumprimento dos regulamentos pedagógicos. Já nos reunimos com o Provedor do Estudante e há essa preocupação da parte dele para que os regulamentos sejam cumpridos. Temos de, ao longo do mandato, ver quais são os problemas que eles nos apresentam. Queremos marcar a posição de que, durante os dois anos, vamos ter reuniões abertas com os estudantes, de forma a recolher aquilo que são os principais problemas para depois vermos o que é que pode ser feito.

 

E quanto aos alunos internacionais. Que medidas podem ser tomadas para defender os seus interesses?

Na questão dos alunos internacionais pretendemos reduzir o valor da propina. Apesar do reitor nos ter transmitido que não há grande margem para discutir essa redução, uma vez que o valor médio atual de um estudante ronda os sete mil euros. Aquilo que nós temos em relatórios é que esse não é o valor. Vamos ter de trabalhar para provar que pode ser reduzido, uma vez que o custo médio ronda os quatro mil euros. Queremos fazer esse trabalho para verificar se são ou não sete mil euros, para conseguirmos apresentar dados que indicam que há a possibilidade de reduzir o valor de propina.

Falámos, na semana passada, com uma estudante brasileira que, nos últimos dois anos, tem feito um trabalho intensivo acerca dessa proposta de redução de valor. Ela falou no caso da Universidade do Porto [UP]. O que nos disse era que não haveria, da parte dos estudantes internacionais, a questão de se optar por Coimbra ou Porto. Muitas vezes o que pesava era o valor da propina. Apesar de considerarem a UC uma das universidades mais prestigiadas do país, haveria alunos que optavam pela UP porque apresentava um valor mais reduzido.

Depois é a questão do funcionamento de aulas. Uma vez que eles pagam um valor mais alto, queremos ver se se consegue que existam aulas em inglês, porque não temos só alunos internacionais brasileiros, temos outras nacionalidades. Eles devem ter melhores condições na universidade.

 

De que forma é que terem dois representantes da lista no CG pode ser uma mais valia para a representação dos estudantes e dos seus interesses?

Tendo em conta o resultado eleitoral, que nos permitiu eleger dois elementos, é um maior apoio para nós naquilo que é a defesa das nossas bandeiras. O que pretendemos é que, a partir de agora, não sejamos só nós os dois, mas a defesa dos cinco. Já tivemos essa iniciativa.

Foi criado um grupo de trabalho com os cinco elementos dos representantes dos estudantes e já houve, da nossa parte, essa disponibilidade. O objetivo é que consigamos trabalhos os cinco. E, se possível, consigamos trabalhar com mais pessoas.

Queremos que aqueles que foram os oito elementos de cada uma das listas, estejam envolvidos, assim como vamos fazer com os restantes seis membros da nossa lista. O objetivo é que se consiga ter um maior número de estudantes envolvidos e assim consigamos ter decisões mais ponderadas.

Fotografia: Inês Nepomuceno

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