Iniciativa procura usar a música como forma de resistência e ativismo. História de Angola contada desde os N’Gola Ritmos até ao Rap atual. Por Isabel Simões
Organizado pela Associação de pesquisadores e estudantes brasileiros em Coimbra (APEB) e pela Esquerda Brasileira em Coimbra (EBRAC), o evento “Resistência Política pela Arte” vai realizar-se no próximo fim de semana. Conta ainda com o apoio do projeto ALICE, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (UC). O objetivo passa por dar “a conhecer melhor a história dos angolanos”, como explica Carlos Guerra Júnior, doutorando em Ciências da Comunicação na UC. Procura-se ainda “mostrar que o artista, quando está envolvido com a política, fala do seu mundo e resiste através da arte”.
A Casa da Lusofonia recebe, pelas 16 horas, o primeiro dia do encontro. Carlos Guerra Júnior explica que vai abordar o tema “Música de Resistência em Angola”, “um histórico de resistência musical que começou com N’Gola Ritmos no período pré independência”. Vai ainda participar Luaty Beirão, ‘rapper’ e ativista luso angolano, que “vai falar também do surgimento do Rap em Angola, da sua atuação como Ikonoklasta e de músicos como MCK e MC Angola”. Jorge Fernandes, associado ao Movimento Pela Libertação de Angola (MPLA), vai também colaborar na abordagem do tema.
Os cantores angolanos David Zé, Urbano de Castro e Tetalando são outros dos artistas que vão ser lembrados. O dia vai terminar com a apresentação do livro “Sou eu mais livre”, de Luaty Beirão, que narra os dias em que esteve preso.
No domingo, pelas 15 horas, no Ateneu de Coimbra vai poder ouvir-se Gregório Duvivier, ativista, humorista da Porta dos Fundos e cronista na Folha de São Paulo. O tema abordado intitula-se “Humor contra o Golpe” e versa aspetos da política atual brasileira.
Levar os brasileiros e os portugueses “a conhecer melhor a história dos angolanos”, ao ter a música como veículo, é um dos objetivos da organização. “É muito difícil conseguir um livro que tenha a história de Angola já que existem vários factos que são silenciados”, explica o doutorando. Na atualidade a sociedade angolana tem dificuldade em falar abertamente sobre o golpe que levou ao desaparecimento de centenas de angolanos e também de alguns portugueses, o que justifica o convite a Jorge Fernandes. Três dias após este incidente, ocorrido a 27 de maio de 1977, o “convidado especial” foi preso, o que vai permitir que esclareça algumas perguntas sobre o acontecimento.
A presença de Gregório Duvivier justifica-se pela capacidade que o humorista tem de “pegar o povo que está a oprimir”, isto é, de se colocar no papel da vítima e criticar o opressor. Dá ainda como exemplo as piadas sobre a extrema direita brasileira e o seu “discurso de ódio”. Gregório Duvivier organizou vigílias no Brasil durante a prisão de Luaty Beirão “mesmo sem o conhecer, por solidariedade com ele e a todos os 17 ativistas que estavam presos”, avança Carlos Guerra Júnior. Por isso “faz todo o sentido permitir que se conheçam”, conclui.
Fotografia gentilmente cedida por: Carlos Guerra Júnior
