Cultura

As Letras, da arte à política

A importância das letras no teatro, na escrita, na música e a discussão de vários aspetos de Portugal em 2015 foram os motes das conferências do II Encontro Nacional de Estudantes (ENEL), realizadas na FLUC. Por Pedro Barreiro, Cátia Cavaleiro, Inês Duarte, Rita Fé e João Neves

“Influência das Artes nas Letras”

Na manhã de 27 de fevereiro, Ruy de Carvalho foi recebido na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O ator, antes de fazer qualquer abordagem ao tema que trouxe, deixou logo bem claro que não era um conferencista, “mas sim um bom conversador”. Foi num registo informal que se desenvolveu esta “conversa” entre orador e espectadores. Apesar de um discurso bastante pessoal e sempre animado, não deixaram de surgir algumas questões que exigiam um tom mais grave por parte de todos, como a posição da arte e da cultura face à situação social e económica do país. “Atualmente temos carência não só de artistas como de público. Sem público, o artista não sobrevive”, referiu Ruy de Carvalho. O ator acrescentou ainda que “o orçamento para a cultura, em Portugal, é muito curto. São precisos artistas e espectadores que alimentem a alma e façam crescer”. Quanto ao futuro do teatro e da cultura, o ator considera que é importante olhar o passado como pilar de apoio e não com saudosismo: “são os alunos de hoje que devem projetar este futuro, com trabalho, dedicação e apreço pela arte”.

No final da conferência, Ruy de Carvalho clarificou o alcance que pretendia ter naquela sessão. “Estou a pedir para vocês virem ao teatro”, afirmou, “que sejam sensíveis a qualquer manifestação de arte, porque há muita gente capaz de fazer coisas muito belas e isso enriquece a cultura”.

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Foto por Rita Fé

“Portugal 2015”

Na parte da tarde do mesmo dia, foi Marcelo Rebelo de Sousa quem tomou a palavra no ENEL. Na sua conferência abordou várias questões socioecónomicas. Acerca da Europa, é da opinião que esta “tem de se modernizar”. Conferenciou ainda sobre a geopolítica da atualidade e afirmou que os “EUA vão perder peso e a China ganhar”. Para além disto, declarou que o mundo vive uma Guerra Fria “sem preparação”.

Apesar de ter abordado várias temáticas internacionais, o tema principal foi Portugal. Para o antigo dirigente do PSD, o país “sai da crise sem coesão social” mas os portugueses têm uma “imensa capacidade de adaptação” às adversidades. Quando confrontado com a possibilidade de se candidatar à Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou ser “adequado para Presidente da República”, mas que era muito “prematuro” dar uma resposta.

Em entrevista ao Jornal A Cabra, o professor ressalvou que o “contributo das letras é essencial” para a educação. Marcelo Rebelo de Sousa afirmou ainda que “cada ser é irrepetível e cada minuto é também irrepetível” e que espera ter transmitido essa mensagem.

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Foto por Sandro Raimundo

“Das Gavetas, para o Mundo”

Pedro Rodrigues foi orador na manhã do dia 28. O tema principal da conferência foi o percurso do escritor que afirmou que começou “a escrever desde muito novo” e que “ler é uma terapia, um desabafo”. Nas respostas ao público, o escritor conimbricense declarou que “não deve haver medo de expor os sentimentos”. Para ele, futebol e política são temas que ficam fora da folha de papel, bem como críticas sociais. Quanto à publicação do seu trabalho, a ideia surgiu através de um primo que o aconselhou a criar um blog quando leu os seus textos. Sobre as editoras, considera que “são algo ingrato” visto que comercializam muito.

Quando questionado sobre a importância destes eventos, Pedro Rodrigues respondeu que ter oradores como o ENEL teve era muito importante, já que “podem abrir muitos horizontes”.

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Foto por Pedro Barreiro

“Letras na Música”

Foi na tarde de sábado que o último conferencista pisou o palco do Teatro Paulo Quintela. David Fonseca debateu a questão da fonética numa palestra que arrancou várias gargalhadas a quem assistiu. De guitarra em punho, o cantor foi dedilhando e cantando temas desde “Yesterday” dos Beatles até “Habits (stay high)” da cantora Tove Lo, com espaço ainda para Sérgio Godinho e Amália Rodrigues. Um leque de canções que ilustram a maneira como as letras e a fonologia têm a sua importância no processo musical. Na língua inglesa “há uma facilidade fonética que é muito mais interessante”, uma das razões para cantar maioritariamente nessa língua. Para o artista, as letras não remetem apenas para a composição musical. “Ligo muito a música à literatura e ao cinema, são duas áreas que geralmente se complementam muito”, declarou ao Jornal A Cabra. David Fonseca confessou ainda que tem gosto em participar em conferências pois espera que haja algo nas suas palavras “que possa ter impacto em alguém que está agora a começar um percurso”.

IMG_1021Foto por Inês Duarte

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